segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ANÁLISE BÍBLICA E HISTÓRICA DA ORAÇÃO DA AVE MARIA




 ÍNDICE:

1- A ORAÇÃO MAIS ANTIGA FEITA A MARIA
2- HISTÓRIA DA AVE MARIA
3- ANÁLISE BÍBLICA DA AVE MARIA
3.1- A INTERCESSÃO DOS SANTOS NO ANTIGO TESTAMENTO E A NOÇÃO DE MORTE. 
3.2-O TERMO SANTO NO NOVO TESTAMENTO
3.3- AVE-MARIA PARTE POR PARTE
4- REZAR E ORAR
5- VENERAÇÃO E NÃO ADORAÇÃO
6- TEXTOS DA AVE MARIA AO LONGO DA HISTÓRIA







1- A ORAÇÃO MAIS ANTIGA FEITA A MARIA:

“À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas Em nossas necessidades, Mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Ó Virgem gloriosa e bendita!”. 






A oração “Sub tuum praesidium” (À vossa proteção) é a mais antiga oração a Nossa Senhora que se conhece. 


 Encontrada num fragmento de papiro, em 1927, no Egito, remonta ao século III. 







Tem uma excepcional importância histórica pela explícita referência ao tempo de perseguições dos cristãos (Estamos na provação e Livrai-nos de todo perigo) e uma particular importância teológica por recorrer à intercessão de Maria invocada com o título de Theotókos (Mãe de Deus).

 Este título é o mais importante e belo da Virgem Santíssima. 

Já no século II era dirigido a Maria e foi objeto de definição conciliar em Éfeso em 431. 

O texto primitivo do qual derivam as diversas variações litúrgicas (copta, grega, ambrosiana e romana) é o seguinte: 

Sob a asa da vossa misericórdia nós nos refugiamos, Theotókos; não recuse os nossos pedidos na necessidade e salva-nos do perigo: somente pura, somente bendita.



2- HISTÓRIA DA AVE MARIA:












 “A Ave-Maria traz em si a marca de muitos séculos e de muitas mãos que a compuseram um pouco por vez. 





A Igreja ousa repetir o texto evangélico, completando-o ou modificando-o, e imediatamente depois ( na parte da Santa Maria) manifesta a necessidade de apoiar-se em Maria nas dificuldades que encontra para ser fiel a Cristo:

 a figura de Maria nas catacumbas de Priscila (fim do século II) e na igreja de Santa Maria Antiqua (ambas em Roma), e a invocação gravada no muro da casa de Maria em Nazaré mostram como, desde o princípio de sua história, a Igreja aprendeu a buscar Maria ao lado de Cristo” .
 
Somente em 1568, portanto quinze séculos após o advento do Cristianismo, a Ave-Maria foi oficialmente aprovada pela Igreja, mas o culto e a oração a Maria existe desde os primeiros séculos e foi crescendo gradativamente, como vemos no registro encontrado nesse papiro do séc III.

Na verdade, desde 1568, quase nada mudou no texto oficial da oração da Ave Maria. 

As alterações, portanto, aconteceram principalmente antes desse reconhecimento. 

A Ave-Maria se impôs ao Cristianismo como a porta de acesso à Virgem Maria, a suprema intercessora dos cristãos. 
 
O primeiro documento escrito em que aparece o uso da saudação do anjo é a Homilia de um certo Theodoto Ancyrani, falecido antes do ano 446. 

Nela é explicitamente afirmado que, impelidos pelas palavras do anjo, dizemos: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”.
Quanto à saudação de Santa Isabel, aparece ela unida à do anjo por volta do século V. 

As duas saudações conjugadas já se encontram nas liturgias orientais de São Tiago (em uso na Igreja de Jerusalém), de São Marcos (na Igreja Copta) e de São João Crisóstomo (na Igreja de Constantinopla).
 
Na Igreja latina, entretanto, as referidas saudações aparecem pela primeira vez unidas aproximadamente no século VI, em obras de São Gregório Magno.

O nome Maria foi acrescentado às palavras do anjo, no Oriente, por volta do século V, segundo parece, na liturgia de São Basílio; no Ocidente, porém, parece que isto ocorreu aproximadamente no século VI, figurando numa das obras de São Gregório Magno, o Sacramentário Gregoriano.

O nome Jesus foi acrescido às palavras de Santa Isabel provavelmente um século depois, no Oriente, figurando pela primeira vez em certo Manual dos Coptas, talvez no século VII; no Ocidente, todavia, o primeiro documento que registra o nome do Redentor é a Homilia III sobre Maria, mãe virginal, de Santo Amedeo, Bispo de Lausanne (Suíça) (aproximadamente em 1150), discípulo de São Bernardo.

 Nos mencionados documentos, ao nome Jesus encontra-se adicionada a palavra Christus.

A segunda parte da prece (Santa Maria, etc.), a súplica, já era empregada na Ladainha dos Santos. 

Em determinado código do século XIII, da Biblioteca Nacional Florentina, que já pertencera aos Servos de Maria do Convento da Beata Maria Virgem Saudada pelo Anjo, em Florença, lê-se esta oração:

 “Ave dulcíssima e imaculada Virgem Maria, cheia de Graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, mãe da graça e da misericórdia, rogai por nós agora e na hora da morte. Amém."

Nesta fórmula, faltam somente dois vocábulos: [nós] pecadores e nossa [morte].

A fórmula precisa da Ave Maria, como é rezada hoje, encontra-se pela primeira vez no século XV, no poema acróstico do Venerável Gasparini Borro, O.S.M. (+ 1498).

A segunda parte da Ave Maria foi sempre rezada em caráter privado pelos fiéis até o ano de 1568, quando o Papa São Pio V promulgou o novo Breviário Romano, no qual figura a fórmula do referido Venerável Gasparini Borro, sendo estabelecida solenemente sua recitação no início do Ofício Divino, após a recitação do Pai Nosso e prescrita para todos os sacerdotes. 

 Depois de um século a mencionada fórmula, sancionada pelo Sumo Pontífice, difundiu-se, de fato, em toda a Igreja universal.


  
3- ANÁLISE BÍBLICA DA AVE MARIA:
As" Igrejas desenvolveram a oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na Pessoa de Cristo manifestada em seus mistérios" como diz o Catecismo da Igreja Católica.








A oração aos santos e a Maria é possível (Apoc 8,3-4), pois para os cristãos desde os primeiros séculos da Igreja, aqueles que morrem no Senhor vivem para o Senhor e estão diante dele na glória do céu, "Ora Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos porque todos vivem para Ele” (Lc 20, 37-38) (Fl 1, 21, 23) (Lc 9, 28 ss), (LC 23, 42-43) e estão aguardando o desfecho final da história da humanidade (Apoc 6,9-11) .



Diante de Deus, os seus santos são como os anjos no céu (Mt 22, 30), intercedendo pelos homens sem cessar (Apoc 7,13-15) (II Mac 15,12-15), por meio do único mediador da salvação, Jesus,“Porque só há um MEDIADOR” entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” - (I Timóteo 2:5).

Esse trecho de Timóteo, mal interpretado pelos não católicos, é usado como argumento para dizer que os santos não podem interceder por nós, o que é um erro, pois o que Timóteo quer dizer é que Jesus é o mediador da salvação dos homens, porém por meio dele podemos oferecer nossas orações também(I Timóteo 2:1).

Os santos podem interceder por nós, e são nossos mediadores, pois quem ora pelo outro está sendo mediador entre o outro e Deus (Dt 5, 5), (Jer 15, 1 ss).

 E o próprio Timóteo diz que "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações e intercessões e ações de graça em favor de todos os homens"  (I Timóteo 2:1), se podemos orar em vida, também podemos orar na presença do senhor após a morte (Fl 1, 21, 23), (II Mac 15,12-15), (Lc 16, 19 e ss), (Lc 20, 37-38), (Apoc 6,9-11), (Apoc 8,3-4).


Até na parábola do rico avarento, Jesus nos mostrou a possibilidade dessa intercessão (Lc 16, 19 e ss).

A mediação de Maria e dos santos é possível (II Mac 15,12-15), assim como é possível que oremos por nossos irmãos na terra (Tgo 5, 16), (I Tm 2, 1-5) .  

No antigo Testamento, já vemos sinais dessa possibilidade, só completa com a redençao de Cristo e sua entrada no céu:



 

"E o Senhor disse-me: ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se" (Jer 15, 1 ss).



(Dt 5, 5): "Eu fui naquele tempo intérprete e mediador entre o Senhor e vós".


"Tomai sete touros... e ide a meu servo Job... o meu servo Job... orará por vós e admitirei propício a sua face" (Job 42, 8)


Onias (…) estava com as mãos estendidas, INTERCEDENDO por toda a comunidade dos judeus.

 
Apareceu a seguir um homem notável (…) Esse é aquele que MUITO ORA pelo povo e por toda cidade santa, é Jeremias, o Profeta de Deus.”
(2Mac 15,12-14) 



 3.1- A INTERCESSÃO DOS SANTOS NO ANTIGO TESTAMENTO E A NOÇÃO DE MORTE.

Muitos não católicos usam passagens do Antigo testamento para afirmar que os mortos não podem orar por nós: 

  “Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem a sepultura” - Salmos 115:17.


 “Porque não pode louvar-te a sepultura, nem a morte glorificar-te; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova” - Isaías 38:18. 

  Esquecem que a própria teologia bíblica é um processo evolucional,e que o Novo Testamento, com Cristo, rompe o que era velho, o Antigo testamento.

Cristo aperfeiçoou os ensinamentos do Antigo Testamento, e abriu para nós o reino dos céus, o Paraíso ( Lc 23, 43).

A noção de morte no Antigo Testamento é outra que a proposta pelos cristãos.

Apesar disso, há alguns trechos que assinalam a noção de vida consciente após a morte e de intercessão deles :


"E o Senhor disse-me: ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se" (Jer 15, 1 ss). 




"Dá de boa vontade a todos os vivos, e não recuses este benefício a um morto" ( Eclo 7,37 )






Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. (
Sabedoria 3,1)


Em II Mac 15,12-15 lemos: "Parecia-lhe (a Judas Macabeu) que Onias, sumo sacerdote (já falecido!)... orava de mãos estendidas por todo o povo judaico... Onias apontando para ele, disse: "Este é amigo de seus irmãos e do povo de Israel; é Jeremias (falecido!), profeta de Deus, que ora muito pelo povo e por toda a cidade santa". 

 "Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis porque ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas"
 ( II Mac 12, 43-46)




 A morte para os cristãos é o encontro com Cristo, como nos diz São Paulo ( II Cor 5,1).

 Os mortos são seres conscientes para os cristãos ( I Pe 3, 18-19 ; 4, 6 ) 

Com a morte somos julgados imediatamente (Hb 9,27) ( RM 14,10) (II Cor 5, 10) e vamos para o céu ou para o inferno (Lc23,42), (Mt 25,34), (Mt 25,41). 

Os que ainda não estão totalmente puros ( Sl 14 ; Hb 12, 22-23 ; Mt 5,8)  para entrarem no céu, e ainda devem expiar algum pecado (I Cor 3, 10-15), (pois cada pecado tem sua consequência e Deus perdoa nosso pecado, mas devemos pagar de alguma forma pelo erro que cometemos), ficam em Purificação, o Purgatório ( Mt 12, 32), (I Cor 3, 10-15), ( II Mac 12, 43-46), ( I Cor 15,29 ) .

Assim, no cristianismo, a morte é uma passagem para o céu e todos os que estão no céu podem orar pelos que estão na terra, já que "Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu." (Mt 22,30).

 Apesar de ainda estarem esperando a ressurreição, os homens e mulheres justos, já estão na presença de Deus (Apoc 7,13-15) , esperando pelo desfecho final da história humana (Apoc 6,9-11) , assim , sendo como os anjos, intercedem por nós continuamente (Apoc 8,3-4) ,(Mt 18,10).



3.2 - O TERMO SANTO NO NOVO TESTAMENTO

No começo da Igreja, o termo santo era usado para todos os fiéis em Cristo:


“E aconteceu que, passando Pedro por toda a parte, veio também aos santos que habitavam em Lida”- Atos 9:32

“Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade” - Romanos 12:13

“Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos” - Romanos 15:25

“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus” - Efésios 1:1

“Aos santos e irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” - Colossenses 1:2

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” - Judas 1:13.



Porém, com o tempo, principalmente com as perseguições aos Cristãos em Roma, nos primeiros séculos, que colocou muitos em provação, o termo santo passou a ser um título de honra, aos que perseveravam na fé e davam seu testemunho, aceitando a morte sem negar o Cristo.

Assim, os cristãos entenderam que ser santo, não é apenas ser batizado e sim perseverar na fé, dando testemunho, como nos diz a própria escritura:

 "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
(Mt 7,21) 

 Direis então: Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças. Ele, porém, vos dirá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim todos vós que sois malfeitores.
(Lc 13, 26-27)

 
O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém mais se há de exigir." ( Lc 12, 45-48). 
O dia ( do julgamento ) demonstra-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo
( I Cor 3, 13-15)
Assim, a morte é o ponto decisivo , nesse momento comparecemos diante de Deus (Hb 9,27) ( Rm 14,10) (II Cor 5, 10) e recebemos o que fizemos em vida ( II Cor 5,10), se fizemos o bem vamos para o céu (Lc23,42), (Mt 25,34), se o mal para o inferno (Mt 25,41).
Quando morremos, se formos bons, vamos imediatamente para o céu (Lc 23,43) , ( II Cor 5,1), por isso muitos santos desejavam a morte como um encontro com Cristo ( II Cor 5,8).
Logo, após a morte é que podemos afirmar de fato se uma pessoa foi santa de verdade ou não, pois é depois que alguém morre que descobrimos toda a verdade sobre a vida dela. 

Assim, com o tempo, o termo santo se tornou um título dado aos que vivem sua fé com heroísmo, evitando o pecado, praticando o Evangelho, sendo um exemplo para os demais cristãos.



3.3- AVE-MARIA PARTE POR PARTE

Assim, sendo respalda na tradição e na Bíblia, a oração a Maria encontrou uma expressão privilegiada na oração da Ave-Maria:

Oração privilegiada por ser em parte bíblica e em parte fruto da tradição, assim uniu os dois pilares da nossa Igreja, com a aprovação do magistério (Papa e bispos em concílio), outro pilar.


1- "Ave, Maria (alegra-te, Maria)." (Lc1,28)



 

A saudação do anjo Gabriel abre a oração da Ave-Maria.

 É o próprio Deus que, por intermédio de seu anjo, saúda Maria. 







Nossa oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua humilde serva, alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela.

Alguns usam Salve Maria em muitas orações, pois acham errado dizer Ave, pois era uma saudação romana, mas  quando a Bíblia foi traduzida para o latim, São Jerônimo utilizou a forma romana.

Dizer Ave ou Salve, hoje , para nós não há muita diferença, já que são saudações que caíram em desuso, porém por séculos a oração ficou conhecida como Ave Maria.

2- "Cheia de graça, o Senhor é convosco." (Lc1,28)

As duas palavras de saudação do anjo se esclarecem mutuamente. 

Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela. 

 A graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça.

 "Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti" (Sf 3,14.17a). 

Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: ela é "a morada de Deus entre os homens" (Apoc 21,3).

 "Cheia de graça", e toda dedicada àquele que nela vem habitar e que ela vai dar ao mundo.




3- "Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus." (Lc1,41)

Depois da saudação do anjo, tornamos nossa a palavra de Isabel. 

"Repleta do Espírito Santo" (Lc 1,41), Isabel é a primeira na longa série das gerações que declaram Maria bem-aventurada': "Feliz aquela que creu..." (Lc 1,45): 

Maria é "bendita entre as mulheres" porque acreditou na realização da palavra do Senhor. 

Abraão, por sua fé, se tomou uma bênção para "todas as nações da terra" (Gn 12,3). 

Por sua fé, Maria se tomou a mãe dos que crêem (Apoc12,17) (Jo 19, 26-27), porque, graças a ela, todas as nações da terra recebem Aquele que é a própria bênção de Deus: "Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus".










4-  "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós..." 

Com Isabel também nós nos admiramos: "Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?" (Lc 1,43). 

Porque nos dá Jesus, seu filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como rezou por si mesma: 

"Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). 

Confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: "Seja feita a vossa vontade".

 Maria é Mãe de Deus, pois foi de Maria que nasceu Jesus (Mt 1, 16) (Gal 4,4) , o nosso Senhor (Lc1,43), Filho de Deus (Lc1,35) e Deus (Jo 1,1), (Jo 5,18) com o Pai e o Espírito Santo (Mt 28,19).

Maria é Mãe de Deus, pois Jesus não é metade homem e metade Deus, Ele é Deus e homem ao mesmo tempo.

Maria é Mãe no sentido de ter gerado em seu ventre e em seu coração Jesus, nosso Senhor e Deus. 


5- "Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte." 



Já foi explicado mais acima a intercessão dos santos na Bíliba.

Assim, pedindo a Maria que reze por nós, reconhecemo-nos como pobres pecadores e nos dirigimos à "Mãe de misericórdia"  ( Jo 2,3),  à Toda Santa (Lc 1,28).

 Entregamo-nos a ela "agora", no hoje de nossas vidas. 

E nossa confiança aumenta para desde já entregar em suas mãos "a hora de nossa morte", pois nessa hora compareceremos diante de Deus (Hb 9, 27) para sermos julgados.

Que ela esteja então presente, como na morte na Cruz de seu Filho, e que na hora de nossa passagem ela nos acolha como nossa Mãe (Jo 19,27) , para nos conduzir a seu Filho, Jesus, no Paraíso, pois o seu pedido é poderoso (Jo 2, 3ss).




4 - REZAR E ORAR

   A piedade medieval do Ocidente desenvolveu a oração do Rosário como alternativa popular à Oração das Horas

O rosário é uma oração vocal, resumo do Evangelho, pois medita toda a vida de Jesus e Maria, seus mistérios gozosos, dolorosos, luminosos e gloriosos.

Rezar o rosário é rezar a Bíblia, pois ele é composto, quase que completamente de orações evangélicas o Pai-nosso (Mt 6,9-13), a Ave Maria ( Lc 1,28. 42.) e o Glória ao Pai (Lc 2, 14).

Rezar , do latim recitare, que também deu em português recitar

Já em latim, os verbos orare e recitare têm sentidos muito próximos:

 o primeiro significa “pronunciar uma fórmula ritual, uma oração, uma defesa em juízo”; o segundo, “ler em voz alta e clara” (portanto, o mesmo que em português recitar).

 Entretanto, para orare prevaleceu na latinidade e nas línguas românicas o sentido de rezar, isto é, dizer ou fazer uma oração ou súplica religiosa (cfr. A. Ernout–A. Meillet, Dictionnaire étymologique de la langue latine — Histoire des mots, Klincksieck, Paris, 4ª ed., 1979, p. 469).
 
Nós, católicos, damos ao verbo rezar um sentido bastante amplo e genérico, e reservamos a palavra oração mais especialmente — mas não exclusivamente — para os diversos gêneros de oração mental, como a meditação, a contemplação etc. Não há razão, portanto, para fazer dessa ligeira diferença, comum nos sinônimos, um tema de disputas.


 Alguns não católicos dizem que “não devemos orar repetidas vezes”, e apelam para a Bíblia, a passagem do  Evangelho de São Mateus (6,7):

 “Nas vossas orações, não queirais usar muitas palavras, como os pagãos, pois julgam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos”.
 
A interpretação deste texto de São Mateus não é entretanto a que os protestantes lhe dão. 

Ele significa simplesmente que a eficácia da oração não decorre da loquacidade ( palavras bonitas para convenver a Deus), mas sobretudo das boas disposições do coração.

 As disposições sendo boas, em princípio, quanto mais se reza, melhor! 

Até porque rezar é repetir uma fórmula, mas o que muda é o porque se reza, como se reza, com que intenção, com que desejo, com que pensamento.

Além do mais, como judeu, Jesus aprendeu a rezar muitos salmos (Mt 26,30), e participou de muitas cerimônias judáicas e no Evangelho não consta que Ele fosse contra elas, muito pelo o contrário ele mesmo frequentava o Templo de Jerusalém.

Os próprios não católicos quando cantam um hino , estão rezando, pois ninguém inventa uma canção do nada.

E o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor, deu o exemplo de uma oração longa e repetitiva no Horto das Oliveiras, quando, prostrado com o rosto em terra, rezou por mais de uma hora, dizendo:  

"Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice; mas não se faça a minha vontade, e sim a vossa."
 ( Mt 26, 39-44; Lc 22, 41-45)

Jesus orou por três vezes com as memas palavras, usando uma fórmula, porém o que contava era a intensidade com que ele dizia essas palavras:

"Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras ." (Mt 26,44)


Quanto à necessidade da insistência na oração, no Evangelho de São Lucas (11, 5-8) se lê a impressionante lição do Divino Mestre:

 “Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de viagem, e não tenho nada que lhe dar; e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me sejas importuno, a porta já está fechada, e os meus filhos estão deitados comigo; não me posso levantar para te dar coisa alguma. E, se o outro perseverar em bater, digo-vos que, ainda que ele se não levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará, e lhe dará quantos pães precisar”.


A reiteração de nossos pedidos a Deus deve pois chegar a esse ponto da importunação, segundo o conselho do mesmo Nosso Senhor.





 Maria é a Orante perfeita, figura da Igreja (Apoc 12).

 Quando rezamos a ela, aderimos com ela ao plano do Pai  (Lc 1,38), que envia seu Filho para salvar todos os homens. 

Como o discípulo bem-amado, acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus (Jo 19,27), que se tornou a mãe de todos os vivos, pois se em Eva, somos filhos do pecado ( Gn 3,20), (Rm 5,12), em Cristo, recebemos vida nova ( Rm 5,19) e Maria é a mãe dessa nova geração de redimidos ( Apoc 12,17).


Podemos rezar com ela e a ela. 

 A oração da Igreja é acompanhada pela oração de Maria, que lhe está unida na esperança.



5- VENERAÇÃO E NÃO ADORAÇÃO 







     "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1,48): "A piedade da Igreja para com a Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão". 

A Santíssima Virgem "é legitimamente honrada com um culto especial pela Igreja.
 Com efeito desde remotíssimos tempos, a bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de 'Mãe de Deus', sob cuja proteção os fiéis se refugiam suplicantes em todos os seus perigos e necessidades (...) 
Este culto (...) embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao Verbo encanado e igualmente ao Pai e ao Espírito Santo, mas o favorece poderosamente";
 este culto encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração Mariana, tal como o Santo Rosário, "resumo de todo o Evangelho.

Ao cultuar  Maria, podemos nos ajoelhar e rezar a ela, pois ajoelhar-se nem sempre quer dizer adorar, mas venerar, mostrar respeito, como vemos o gesto de Abigail diante de Davi:



"QUANDO ABIGAIL AVISTOU DAVI, DESCEU PRONTAMENTE DO JUMENTO E PROSTROU-SE COM O ROSTO POR TERRA DIANTE DELE."
I SM 25,23



Os Judeus tinham uma veneração pela Arca da Aliança (I Cron 15,28), pois sabiam que nela estava a Palavra de Deus, os dez mandamentos, e um pouco do maná, pão do céu (Hb 9,4) , e consideravam a Arca como um ponto de ligação entre eles e Deus (EX. 25, 18-22), (II Cron 6,41).

Do mesmo modo, veneravam o Templo de Jerusalém (I Re 8, 10-11).

Ora, Maria, para os cristãos, é a Arca da nova Aliança (Apoc 11,19), já que teve em seu ventre o Verbo (Jo 1, 1), a Palavra de Deus, e o Maná, o Pão vivo (Jo 6,35), Jesus, descido do céu (Jo 6,38), e como não devemos venerá-la?

Maria foi e é o Templo perfeito da Trindade (Lc1,35) e como não respeitá-la e amá-la?

Os judeus veneravam uma caixa de madeira revestida de ouro (Hb 9,4), (II Cron 6,41) que continha as tábuas da Lei, nós veneramos Maria, que conteve o Criador do Universo, que deu sua carne e seu sangue, para o Todo-Poderoso.

Se os judeus tremiam e temiam o poder da Arca (Num 10,35), quanto mais nós não devemos venerar e honrar uma mulher revestida do poder de Deus (Lc1,35), (Lc1,41), (Apo 12 1-2)?


 Nenhuma mulher será igual a Maria, pois nenhuma será como ela, Filha, Mãe e Esposa de Deus (Lc1,35).

Assim ao olhar as imagens (Num 21 8-9) de Maria e orarmos diante delas, nos dirigimos não à imagem e sim àquela que a imagem representa, assim como os israelitas oravam a Deus diante da Arca (Num 7,89), que tinha imagens de anjos ( querubins) (Ex 25,18-22) e oraram diante da serpente de bronze (Num 21 8-9).
 
6- TEXTOS DA AVE MARIA AO LONGO DA HISTÓRIA 

Há diversas versões e diversas variações da "Ave Maria", principalmente quando associada à arte multimídia, e mesmo em um contexto religioso formal ela não é única.

Versão Bizantina

É a versão mais antiga conhecida, rementendo a alusões do Novo Testamento.
Θεοτόκε Παρθένε, χαῖρε,
κεχαριτωμένη Μαρία, ὁ Κύριος μετὰ σοῦ.
εὐλογημένη σὺ ἐν γυναιξί,
καὶ εὐλογημένος ὁ καρπὸς τῆς κοιλίας σου,
ὅτι Σωτήρα ἔτεκες τῶν ψυχῶν ἡμῶν.
Theotokos virgem, regozija,
Maria cheia em graça, o Senhor é contigo.
Bendita és entre as mulheres
e bendito é o fruto de teu ventre,
pois portas o Salvador de nossas almas.

Versão Católica pré-Tridentina

É a versão latina predominante antes do Concílio de Trento. É a forma ainda mantida por luteranos e anglicanos.
Ave Maria, gratia plena,
Dominus tecum.
Benedicta tu in muliuribus,
et benedíctus frictus ventris tui, Iésus
Ave Maria, cheia de graça,
o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres,
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

Versão Católico Romana pós-Tridentina

Ave Maria, cheia de graça,
o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres,
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.
Amém.
Em latim
Ave Maria
Gratia plena
Dominus tecum
Benedicta tu
In mulieribus
Et benedictus
Fructus Ventris tui, Jesu
Sancta Maria,
Mater Dei,
Ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis nostrae
Amen


















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