Muito antes das definições do papa Gregório I, em 593 e do
Concílio de Florença de 1439 e do de Trento em 1563 a doutrina do Purgatório era amplamente conhecida pelos primeiros cristãos, como bem demonstram as seguintes
evidências patrísticas.
Por ser uma doutrina tão conhecida pelos primeiros cristãos, temos aí uma certeza absoluta dela ter sido ensinada pelos Apóstolos aos Bispos e seus sucessores.
Algumas evidências de testemunhos históricos:
Por ser uma doutrina tão conhecida pelos primeiros cristãos, temos aí uma certeza absoluta dela ter sido ensinada pelos Apóstolos aos Bispos e seus sucessores.
Algumas evidências de testemunhos históricos:
REGISTROS DA CRENÇA NO PURGATÓRIO NO ANO 203:
PERPÉTUA
Santa Perpétua foi uma mártir cristã martirizada em 203 juntamente com
outros cinco cristãos (Felicidade, Revocato, Saturnino, Segundo e
Saturo).
Esquanto estava na prisão, teve uma dupla visão em que viu seu irmão,
falecido 7 anos antes, sair de um lugar tenebroso onde estava sofrendo.
Santa Perpétua passou então a rezar pelo descanso eterno de sua alma e,
logo após ser ouvida pelo Senhor, teve uma segunda visão em que viu seu
irmão seguro e em paz porque sua pena havia sido satisfeita:
"Imediatamente, nessa mesma noite, isto me foi mostrado em uma
visão: eu vi Dinocrate saindo de um lugar sombrio, onde se encontravam
também outras pessoas; e ele estava magro e com muita sede, com uma
aparência suja e pálida, com o ferimento de seu rosto quando havia
morrido. Dinocrate foi meu irmão de carne, tendo falecido há 7 anos de
uma terrível enfermidade... Porém, eu confiei que a minha oração haveria
de ajudá-lo em seu sofrimento e orei por ele todo dia, até irmos para o
campo de prisioneiros... Fiz minha oração por meu irmão dia e noite,
gemendo e lamentando para que [tal graça] me fosse concedida. Então,
certo dia, estando ainda prisioneira, isto me foi mostrado: vi que o
lugar sombrio que eu tinha observado antes estava agora iluminado e
Dinocrate, com um corpo limpo e bem vestido, procurava algo para se
refrescar; e onde havia a ferida, vi agora uma cicatriz; e essa piscina
que havia visto antes, vi que seus níveis haviam descido até o umbigo do
rapaz. E alguém incessantemente extraía água da tina e próximo da orla
havia uma taça cheia de água; e Dinocrate se aproximou e começou a beber
dela e a taça não reduziu [o seu nível]; e quando ele ficou saciado,
saiu pulando da água, feliz, como fazem as crianças; e então acordei.
Assim, entendi que ele havia sido levado do lugar do castigo" (Paixão de
Perpétua e Felicidade 2,3-4).[3]
METADE DO SÉCULO II E INÍCIO DO III:
ABÉRCIO
Bispo de Hierápolis, na Frígia, na segunda metade do século II e início
do III, foi desde cedo bastante venerado pela Igreja grega e,
posteriormente, pela Igreja latina. Sabe-se que visitou Roma regressando
logo depois pela Síria e Mesopotâmia. Antes de morrer, compôs seu
próprio epitáfio, datado de finais do século II ou início do III, em que
pede que se ore por ele:
"Cidadão de pátria ilustre, / Construí este túmulo durante a vida, /
Para que meu corpo - num dia - pudesse repousar. / Chamo-me Abércio: /
Sou discípulo de um Santo Pastor, / Que apascenta seu rebanho de
ovelhas, / Por entre montes e planícies. / Ele tem enormes olhos que
tudo enxergam, / Ensinou-me as Escrituras da Verdade e da Vida / [...] /
Eu, Abércio, ditei este texto / E o fiz gravar na minha presença / Aos
setenta e dois anos. / O irmão que o ler por acaso / Ore por Abércio."
(Epitáfio de Abércio).
REGISTROS DO ANO 160 SOBRE A CRENÇA NO PURGATÓRIO:
ATOS DE PAULO E TECLA
Os Atos de Paulo e Tecla, escritos no século II (ano 160), narram a
história de uma convertida que se converteu ao ouvir as pregações de São
Paulo e, após desfazer o compromisso com seu noivo, se dedica a
assistir Paulo na evangelização. Lemos aí uma oração de intercessão para
que uma cristã falecida seja levada para o lugar dos justos:
"E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila
havia morrido e disse para ela em sonhos: 'Mãe: deverias ter esta
estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser
levada para o lugar dos justos" (Atos de Paulo e Tecla).
CLEMENTE DE ALEXANDRIA
Nasceu por volta do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos.
Após tornar-se cristão, viajou pelo o sul da Itália, Síria e Palestina,
em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os
ensinamentos de Panteno, líder da escola catequética de Alexandria
(Egito), fizeram com que se estabelecesse ali. No ano 202, a perseguição
de Sétimo Severo o obrigou a abandonar o Egito e a se refugiar na
Capadócia, onde morreu pouco antes de 215.
Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável!
Segundo Quasten, em suas obras podemos encontrar cerca de 360 citações
dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é
considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão, conhecedor
profundo não apenas da Sagrada Escritura mas ainda das obras cristãs
anteriores a ele e, inclusive, obras da literatura profana.
Nos "Stromata" ou "Tapeçarias" (Στρωματεις), fala da purificação pelo
"fogo" que a alma sofre posteriormente à morte, quando não atingiu a
plena santidade:
"Através de grande disciplina o crente se despoja das suas paixões e
passa a mansão melhor que a anterior; passa pelo maior dos tormentos,
tomando sobre si o arrependimento das faltas que possa ter cometido após
o seu batismo. Então, é torturado mais ao ver que não conseguiu o que
os outros já conseguiram. Os maiores tormentos são atribuídos ao crente
porque a justiça de Deus é boa e sua bondade é justa; e estes castigos
completam o curso da expiação e purificação de cada um" (Stromata
4,14).
"Porém, nós dizemos que o fogo santifica não a carne, mas as almas
pecadoras; referindo-se não ao fogo comum, mas o da sabedoria, que
penetra na alma que passa pelo fogo" (Stromata 8,6).
SÉCULO II OU III :
TERTULIANO
Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 195, se
converteu ao Cristianismo e chegou a se tornar em um notável escritor
eclesiástico. Infelizmente, por volta do ano 207, aderiu abertamente à
seita herética de Montano e acabou fundando sua própria seita (a dos
Tertulianistas).
Encontram-se nos escritos de Tertuliano numerosas e claras referências
ao Purgatório.
Entre elas, podemos mencionar: "De Anima" (Da Alma), que
fala da purificação da alma após a morte; em "De Carnis Resurrectione"
(Da Ressurreição da Carne), chega ao extremo de afirmar que apenas os
mártires viverão diretamente na presença de Deus; em "De Monogamia" (Da
Monogamia), fala como as orações pelos falecidos podem ajudá-los; e em
"De Corona" (Da Coroa), menciona o costume da Igreja celebrar a
Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos:
"Por isso, é muito conveniente que a alma, sem esperar a carne,
sofra um castigo pelo que tenha cometido sem a cumplicidade da carne. E,
igualmente, é justo que, em recompensa pelos bons e piedosos
pensamentos que tenha tido sem a cooperação da carne, receba consolos
sem a carne. Mais ainda: as próprias obras realizadas com a carne, ela é
a primeira a conceber, dispor, ordenar e pô-las em alerta. E ainda
naqueles casos em que ela não consente em pô-las em alerta, no entanto, é
a primeira a examinar o que logo fará no corpo. Enfim, a consciência
não será nunca posterior ao fato. Consequentemente, também a partir
deste ponto de vista, é conveniente que a substância que foi a primeira a
merecer a recompensa seja também a primeira a recebê-la. Em suma: já
que por esta lição que nos ensina o Evangelho entendemos o inferno, já
que 'por esta dívida, devemos pagar até o último centavo', compreendemos
que é necessário purificar-se das faltas mais ligeiras nesses mesmos
lugares, no intervalo anterior à ressurreição; ninguém poderá duvidar
que a alma recebe logo algum castigo no inferno sem prejuízo da
plenitude da ressurreição, quando receberá a recompensa juntamente com a
carne" (Da Alma 58: PL 2,751).
"Ao deixar o seu corpo, ninguém vai imediatamente viver na presença
do Senhor - exceto pela prerrogativa do martírio, pois então adquire uma
morada no paraíso e não nas regiões inferiores" (Da Ressurreição da
Carne 43).
"Certamente, ela roga pela alma de seu marido; pede que durante este
intervalo ele possa encontrar descanso e participar da primeira
ressurreição [...] Oferece, a cada ano, o sacrifício no aniversário de
sua dormição" (Da Monogamia 10).
"O sacramento da Eucaristia, encomendado pelo Senhor no tempo da
ceia e para todos, o recebemos nas assembléias, antes do amanhecer, e
não das mãos de outros que não sejam os que as presidem. Fazemos
oblações pelos falecidos, a cada ano, nos dias de aniversário" (Da Coroa
3: PL 2,79).
Não se pode deixar de observar que Tertuliano escreveu isto muitos anos antes de São Gregório Magno "sonhar" em nascer...
TESTEMUNHO DO ANO 200:
CIPRIANO DE CARTAGO
São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de
família rica e culta. Dedicou-se, em sua juventude, à retórica. O
desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos
contrastados com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a abraçar o
Cristianismo por volta do ano 246.
Pouco depois, em 248, foi eleito
bispo de Cartago. Durante a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor
afastar-se para outro lugar, para continuar a se ocupar com seu rebanho
de fiéis. Dele conservamos uma dezena de opúsculos sobre diversos temas
de então e, particularmente, uma coleção de 81 cartas.
Em São Cipriano encontramos, da mesma forma que nos anteriores,
referências ao Purgatório feitas séculos antes de São Gregório Magno:
"Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa
é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra
coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é
ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e
completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de
todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que
ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado
pelo Senhor" (Epístola 51,20).
São Cipriano também atesta o comum costume de se fazer orações e
oferecer a Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos, o que seria
inútil caso as orações não pudessem ajudá-los:
"Oferecemos por eles sacrifícios, como percebeis, sempre que na
comemoração anual celebramos os dias da paixão dos mártires" (Epístola
33,3).
No seguinte texto também podemos ver São Cipriano atestando de maneira
implícita o costume de se oferecer a Eucaristia pelos falecidos. É
negado para o caso particular de Victor (que se celebre Missas por sua alma) em razão da violação das
decisões conciliares, por ter ordenado ilegitimamente Gemínio Faustino
como presbítero:
"...E quanto a Victor, visto que contrariamente à forma prescrita
pelo recente Concílio dos sacerdotes se atreveu a constituir tutor ao
presbítero Gemínio Faustino, não há razão para que se celebre, entre
vós, a oblação pela sua morte ou se reze por ele qualquer oração na
Igreja; desta forma, observaremos nós o decreto dos sacerdotes,
elaborado religiosamente e por necessidade, dando-se, ao mesmo tempo,
exemplo aos demais irmãos, para que ninguém deseje as moléstias mundanas
aos sacerdotes e ministros de Deus dedicados ao seu altar e Igreja"
(Epístola 65,2).
Outro texto similar:
"Finalmente, anotai também os dias em que eles morrem, para que
possamos celebrar suas comemorações entre as memórias dos mártires; por
mais que Tertuliano, nosso fidelíssimo e devotíssimo irmão, com aquela
solicitude e cuidado que reparte com os irmãos sem se orgulhar da sua
atividade, e como no cuidado dos cadáveres remanescentes ali, tenha
escrito e me faça saber, entre outras coisas, os dias em que nossos
ditosos irmãos partiram do cárcere para a imortalidade através de uma
morte gloriosa, celebramos aqui nossas oblações e sacrifícios em
comemoração deles, as quais prontamente celebraremos convosco, com a
ajuda de Deus" (Epístola 36,2).
TESTEMUNHO DO ANO 231:
ORÍGENES
Ilustre teólogo e escritor eclesiástico. Nascido em Alexandria por volta
do ano 231, foi reconhecido como o maior mestre da doutrina cristã em
sua época, exercendo uma extraordinária influência como intérprete da
Bíblia.
Orígenes enxerga em 1Coríntios 3 uma alusão ao Purgatório:
"Pois se sobre o fundamento de Cristo contruístes não apenas ouro e
prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas
que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com
tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou
em razão destes obstáculos poderias ficar sem receber o prêmio por teu
ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com
efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para
nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se
o chamado 'fogo purificador'. Porém, este fogo não consome a criatura,
mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o
fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o
prêmio de nossas grandes obras" (P.G. 13, col. 445,448).
TESTEMUNHO DO ANO 300:
LACTÂNCIO
Loarte comenta que foi chamado "o Cícero cristão" por seu elegante
manejo da língua latina. Nasceu no norte da África por volta do ano 250,
de pais pagãos. Provavelmente converteu-se ao Cristianismo na
Nicomédia. Durante a última grande perseguição, por volta do ano 303,
viu-se obrigado a abandonar sua cátedra e exilar-se na Bitínia. Após o
Edito de Milão, Constantino o chamou a Tréveris, para confiar-lhe a
educação de Crispo, seu filho mais velho. Pouco mais conhecemos da vida
de Lactâncio, que deve ter falecido por volta do ano 317.
Em suas "Instituições Divinas", livro 7, enxerga 1Coríntios 3 da mesma forma que Orígenes: como uma referência ao Purgatório...
"Porém, quando julgar os justos, Ele também os provará com fogo.
Então aqueles cujos pecados excederem em peso ou número, serão
chamuscados pelo fogo e queimados; mas aqueles a quem imbuiu a justiça e
plena maturidade da virtude não perceberão esse fogo porque eles têm
algo de Deus neles mesmos, que repele e rejeita a violência da chama"
(Instituições Divinas 7,21).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
EFRÉM DA SÍRIA
Nasceu por volta do ano 306, no povoado de Nísibis (hoje chamada
Nusaybim, na Turquia). Diácono, Doutor da Igreja e escritor
eclesiástico. Estima-se que faleceu por volta do ano 373, embora alguns
autores afirmem que viveu até 378 ou 379.
Em seu testamento, solicita que orem por ele e cita o livro dos Macabeus
como evidência de que as orações dos vivos podem ajudar a expiar os
pecados dos falecidos:
"Quando se cumprir o trigésimo dia [da minha morte], lembrai-vos de
mim, irmãos. Os falecidos, com efeito, recebem ajuda graças a oferenda
que fazem os vivos (...) Se como está escrito, os homens de Matatias
encarregados do culto em favor do exército expiaram, pelas oferendas, as
culpas daqueles que tinham perecido e eram ímpios por seus costumes,
quanto mais os sacerdotes de Cristo, com suas santas oferendas e
orações, expiarão os pecados dos falecidos" (Testamento, 72,28:EP
741).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
BASÍLIO MAGNO
Nasceu por volta do ano 330, do seio de uma família profundamente
cristã. No ano 364 foi ordenado sacerdote e, 6 anos depois, sucedeu a
Eusébio, bispo de Cesaréia, metropolita da Capadócia e exarca da diocese
do Ponto. Faleceu no ano 379.
Fala como aqueles atletas de Deus, logo após terem sido salvos, podem
ser "detidos" se por acaso conservarem algumas manchas de pecado:
>
"Penso que os valorosos atletas de Deus, os quais durante toda a sua
vida estiveram frequentemente em luta contra os seus inimigos
invisíveis, após terem superado todos os seus ataques, ao chegarem ao
fim de suas vidas serão examinados pelo príncipe do século, a fim de
que, se em consequência das lutas tiverem algumas feridas ou certas
manchas ou vestígios de pecado, sejam detidos; porém, se são encontrados
imunes e incontaminados, como invictos e livres encontram o descanso
junto a Cristo" (Homilias sobre os Salmos 7,2: PG 29,232).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
CIRILO DE JERUSALÉM
Nasceu em Jerusalém ou em sua circunvizinhança, em torno do ano 313 ou
315. Foi Padre da Igreja e arcebispo de Jerusalém. Estima-se que morreu
em 386.
Em sua catequese reafirma a imemorial Tradição da Igreja de orar pelos falecidos por seu eterno descanso:
"Recordamos também de todos os que já dormiram; em primeiro lugar,
os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, para que, por
suas preces e intercessão, Deus acolha a nossa oração. Depois, também
pelos santos padres, bispos falecidos e, em geral, por todos cuja vida
transcorreu entre nós, crendo que isso será da maior ajuda para aqueles
por quem se reza. Quero vos esclarecer isso com um exemplo: visto que
muitos ouviram dizer: para que serve a uma alma sair deste mundo com ou
sem pecados se depois faz-se menção dela na oração? Suponhamos, por
exemplo, que um rei envia ao desterro alguém que o ofendeu; porém,
depois, os seus parentes, afligidos pela pena, lhe oferecem uma coroa.
Por acaso não ficarão agradecidos pelo relaxamento dos castigos? Do
mesmo modo, também nós apresentamos súplicas a Deus pelos falecidos,
ainda que sejam pecadores. E não oferecemos uma coroa, mas sim Cristo
morto por nossos pecados, pretendendo que o Deus misericordioso se
compadeça e seja propício tanto com eles quanto conosco" (Catequese
13,9-10).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
EPIFÂNIO DE SALAMINA
Nasceu por volta do ano 315 na Judéia. Fundou um mosteiro que dirigiu
por quase 30 anos. Foi bispo de Salamina e metropolita do Chipre. Morreu
no ano 367.
Testemunha, da mesma maneira que os anteriores, a utilidade das orações
pelos falecidos para obter de Deus o perdão das suas culpas:
"Quanto a recitação dos nomes dos falecidos, o que pode haver de
mais útil e que seja mais oportuno e digno de louvor, a fim de que os
presentes percebam que os falecidos continuam vivendo e não foram
reduzidos ao nada, mas continuam existindo e vivem junto do Senhor,
restando assim afiançada a esperança daqueles que rezam por seus irmãos
falecidos, considerando-os como se tivessem emigrado para outro país?
São úteis, com efeito, as preces que são feitas em seu favor, mesmo que
não possam eliminar todas as suas culpas" (Panarion 75,8: PG
42,513).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
GREGÓRIO DE NISSA
Nasceu entre os anos 331 e 335. Era irmão de São Basílio Magno, que o consagrou bispo de Nissa em 371. Faleceu no ano 394.
O seguinte texto é uma referência tão clara ao Purgatório que não necessita de nenhum comentário:
"Quando ele renuncia a seu corpo e a diferença entre a virtude e o
vício é conhecida, não pode pode se aproximar de Deus até que seja
purificado com o fogo que limpa as manchas com as quais a sua alma está
infectada. Esse mesmo fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a
propensão ao mal" (Sermão sobre a Morte 2,58).
TESTMUNHO DO SÉCULO IV:
JOÃO CRISÓSTOMO
São João Crisóstomo é o representante mais importante da Escola de
Antioquia e um dos quatro grandes Padres da Igreja no Oriente. Nascido
por volta do ano 350, talvez antes, foi ordenado sacerdote no ano 386 e
em 397 foi consagrado bispo de Constantinopla. Morreu em 407.
Atesta que foram os próprios Apóstolos que instituíram a celebração da
eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos e exorta a não cessarmos
de ajudar os defuntos com nossas orações, já que, graças a elas, recebem
consolo:
"Não sem razão foi determinado, mediante leis estabelecidas pelos
Apóstolos, que na celebração dos sagrados e impressionantes mistérios se
faça a memória dos que já passaram desta vida. Sabiam, com efeito, que
com isso os falecidos obtêm muito fruto e tiram grande proveito. Quando
todo o povo e os sacerdotes estão com as mãos estendidas e se está
celebrando o santo sacrifício, por acaso Deus não se mostrará propício
com aqueles em favor dos quais lhe imploramos? Tratam-se daqueles que
morreram conservando a fé" (Homilias sobre a Carta aos Filipenses 3,4:
PG 62,203).
"Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai,
'porque deveríamos duvidar que quando nós também oferecemos [o
sacrifício] pelos que já partiram, recebem eles algum consolo'? Já que
Deus costuma atender aos pedidos 'daqueles que pedem pelos demais', não
cansemos de ajudar os falecidos, oferecendo em seu nome e orando por
eles" (Homilias sobre 1Corintios 41,8).
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
TESTEMUNHO DO SÉCULO IV:
SANTO AGOSTINHO
Doutor da Igreja nascido em Tagaste (África) no ano 354, filho de Santa
Mônica. Após uma vida ímpia, converteu-se no ano 387 e, posteriormente,
foi eleito bispo de Hipona, ministério que exerceu durante 34 anos. É
considerado um dos Padres mais influentes do Ocidente e seus escritos
são de grande atualidade. Morreu no ano 430.
As descrições do Purgatório por parte de Santo Agostinho também são
bastante anteriores a São Gregório Magno e são tão claras que tampouco
necessitam de explicações:
"Senhor, não me interpeles na tua indignação. Não me encontres entre
aqueles a quem haverás de dizer: 'ide para o fogo eterno que está
preparado para o diabo e seus anjos'. Nem me corrijas em teu furor, mas
purifica-me nesta vida e torna-me tal que já não necessite do fogo
corretor, atendendo aos que hão de salvar-se, ainda que, não obstante,
como que através do fogo.
Por que acontece isto se não é porque edificam aqui sobre o cimento, lenha, palha e feno? Se tivesse edificado sobre o ouro, a prata e as pedras preciosas, estariam livres de ambas as classes de fogo, não apenas daquele eterno, que atormentará os ímpios para sempre, mas também daquele que corrigirá aos que hão de salvar-se através do fogo" (Comentário ao Salmo 37,3: BAC 235,654).
Por que acontece isto se não é porque edificam aqui sobre o cimento, lenha, palha e feno? Se tivesse edificado sobre o ouro, a prata e as pedras preciosas, estariam livres de ambas as classes de fogo, não apenas daquele eterno, que atormentará os ímpios para sempre, mas também daquele que corrigirá aos que hão de salvar-se através do fogo" (Comentário ao Salmo 37,3: BAC 235,654).
"Quando alguém padece algum mal, pela perversidade ou erro de um
terceiro, peca, certamente, o homem que por ignorância ou injustiça
causa um mal a alguém; porém não peca Deus, que por um justo mas oculto
desígnio, permite que isto ocorra. Contudo, há penas temporais que
alguns padecem apenas nesta vida, outros após a morte, e outros agora e
depois. De toda forma, estas penas são sofridas antes daquele
severíssimo e definitivo juízo. Mas nem todos os que hão de sofrer penas
temporais através da morte cairão nas eternas, que terão lugar após o
juízo. Haverá alguns, de fato, a quem se perdoarão no século futuro o
que não se lhes foi perdoado no presente; ou seja, que não serão
castigados com o suplício eterno do século futuro, como falamos mais
acima" (A Cidade de Deus 21,13: BAC 172,791-792).
"A maior parte [das pessoas], uma vez conhecida a obrigação da lei,
se veem vencidas primeiramente pelos vícios que chegam a dominá-las;
tornam-se, assim, transgressoras da lei. Logo buscam refúgio e auxílio
na graça, com a qual recuperarão a vitória, mediante uma amarga
penitência e uma luta mais vigorosa, submetendo primeiro o espírito a
Deus e obtendo depois o domínio sobre a carne. Quem quiser, pois, evitar
as penas eternas não deve apenas se batizar; deve ainda se santificar
seguindo a Cristo. Assim é como quem passa do diabo para Cristo. Quanto
às penas expiatórias, não pense ninguém em sua existência se não será
antes do último e terrível juízo" (A Cidade de Deus 21, 16: BAC
172,798.
"Não se pode negar que as almas dos falecidos são aliviadas pela
piedade dos parentes vivos, quando oferecem por elas o sacrifício do
Mediador ou quando praticam esmolas na Igreja. Porém, estas coisas
aproveitam aquelas [almas] que, quando viviam, mereceram que se lhes
pudessem aproveitar depois. Pois há um certo modo de viver, nem tão bom
que aproveite destas coisas depois da morte, nem tão mal que não lhes
aproveitem; há tal grau no bem que o que possui não aproveita de menos;
ao contrário, há tal [grau] no mal que não pode ser ajudado por elas
quando passar desta vida. Portanto, aqui o homem adquire todo o mérito
com que pode ser aliviado ou oprimido após a morte. Ninguém espere
merecer diante de Deus, quando tiver falecido, o que durante a vida
desprezou" (Das Oito Questões de Dulcício 2, 4: BAC 551,389).
"Lemos nos livros dos Macabeus que foi oferecido um sacrifício pelos
falecidos. E apesar de não podermos ler isto em nenhum outro lugar do
Antigo Testamento, não é pequena a autoridade da Igreja universal que
reflete este costume, quando nas orações que o sacerdote oferece ao
Senhor, nosso Deus, sobre o altar encontra seu momento especial na
comemoração dos falecidos" (Do Cuidado devido aos Mortos 1,3: BAC
551,439).
"Na pátria (=céu) não haverá lugar para a oração, mas apenas para o
louvor. Por que não para a oração? Porque nada faltará. O que aqui é
objeto de fé, ali será objeto de visão. O que aqui se espera, ali se
possuirá. O que aqui se pede, ali se recebe. Contudo, nesta vida existe
uma certa perfeição alcançada pelos santos mártires. A isto se deve o
uso eclesiástico, conhecido pelos fiéis, de se mencionar os nomes dos
mártires diante do altar de Deus; não para orar por eles, mas pelos
demais falecidos de que se faz menção. Seria uma injúria rogar por um
mártir, a cujas orações devemos nos encomendar. Ele lutou contra o
pecado até derramar seu sangue. Aos outros, imperfeitos todavia, mas sem
dúvida parcialmente justificados, diz o Apóstolo na Epístola aos
Hebreus: 'Todavia não resististes até tombar em vossa luta contra o
pecado'" (Sermão 159,1: BAC 443,498).
TESTMUNHO DO SÉCULO V:
TESTMUNHO DO SÉCULO V:
GREGÓRIO MAGNO
Papa e doutor da Igreja, é o quarto e último dos originais Doutores da
Igreja latina. Defendeu a supremacia do Papa e trabalhou pela reforma do
clero e da vida monástica. Nasceu em Roma por volta do ano 540 e
faleceu em 604.
Enxergava em Mateus 12,32 uma referência implícita ao Purgatório:
"Tal como alguém sai deste mundo, assim se apresenta no Juízo.
Porém, deve-se crer que exista um fogo purificador para expiar as culpas
leves antes do Juízo. A razão para isso é que a Verdade afirma que se
alguém disser uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isto não lhe será
perdoado nem neste século nem no vindouro. Com esta sentença se dá a
entender que algumas culpas podem ser perdoadas neste mundo e algumas no
outro, pois o que se nega em relação a alguns deve-se compreender que
se afirma em relação a outros (...) No entanto, tal como já disse,
deve-se crer que isto se refere a pecados leves e de menor importância"
(Diálogos 4,39: PL 77,396).
CONCLUSÃO
Isto é apenas uma seleção parcial de textos patrísticos referentes ao
Purgatório.
Na verdade, torna-se difícil entender, à luz das sentenças anteriores, como ainda existem pessoas que afirmam que o Purgatório foi invenção da Idade Média.
Peço a Deus que isto se dê por ignorância e não por malícia. Felizmente, estes textos estão ao alcance de todos e oferecem uma evidência indiscutível quanto a fé da Igreja primeira... a nossa Igreja [católica].
Na verdade, torna-se difícil entender, à luz das sentenças anteriores, como ainda existem pessoas que afirmam que o Purgatório foi invenção da Idade Média.
Peço a Deus que isto se dê por ignorância e não por malícia. Felizmente, estes textos estão ao alcance de todos e oferecem uma evidência indiscutível quanto a fé da Igreja primeira... a nossa Igreja [católica].
A DEFINIÇÃO DO PURGATÓRIO NO CATECISMO DA IGREJA E NOS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS:
O Catecismo da Igreja Católica explica o Purgatório da seguinte maneira:
"1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão
completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna,
passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade
necessária para entrar na alegria do Céu.
1031. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos
eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A
Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no
Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da
Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador:
'No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe
antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a
Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o
Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no
século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas
faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no
século futuro' (São Gregório Magno, Dial. 4,39)".
Já antes do Concílio Ecumênico
de Florença dois outros Concílios Ecumênicos haviam definido o
Purgatório de forma clara: os Concílios Ecumênicos de Lião I e II, em
1245 e 1274 respectivamente:
"...Finalmente, afirmando a Verdade no Evangelho, que se alguém
blasfemar contra o Espírito Santo não ser-lhe-á perdoada nem neste mundo
nem no futuro [Mat. 12,32], o que dá a entender que algumas culpas são
perdoadas no século presente e outras no futuro, bem como também disse o
Apóstolo, que o fogo provará a obra de cada um; e aquele cuja obra
arder sofrerá dano; ele, porém, se salvará, mas como quem passa pelo
fogo [1Cor. 3,13.15]; e como os próprios gregos dizem que crêem e
afirmam verdadeira e indubitavelmente que as almas daqueles que morrem,
recebida a penitência, porém sem cumprí-la; ou sem pecado mortal, mas
apenas veniais e pequenos; são purificadas após a morte e podem ser
auxiliadas pelos sufrágios da Igreja; visto que [os gregos] dizem que o
lugar desta purificação não lhes foi indicado com nome certo e próprio
por seus doutores, como nós que, de acordo com as tradições e
autoridades dos Santos Padres, o chamamos 'Purgatório', queremos que
daqui por diante também eles o chamem por este nome. Porque com aquele
fogo transitório certamente são purificados os pecados, não os criminais
ou capitais que antes não tenham sido perdoados pela penitência, mas os
pequenos ou veniais, que pesam mesmo depois da morte, ainda que tenham
sido perdoados em vida..." (Concílio Ecumênico de Lião I, 13º
Ecumênico).
"...Mas por causa dos diversos erros que alguns por ignorância e
outros por malícia introduziram, devemos dizer e pregar que aqueles que
depois do batismo caem no pecado não devem ser rebatizados, mas que
obtêm pela verdadeira penitência o perdão dos pecados. E se
verdadeiramente arrependidos morrerem em caridade antes de ter
satisfeito com frutos dignos de penitência por seus atos e omissões,
suas almas são purificadas após a morte com penas purgatórias ou
catartérias, como nos explicou frei João; e para alívio dessas penas
lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos a saber: os sacrifícios das
missas, as orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que, segundo
as instituições da Igreja, alguns fiéis costumam a fazer em favor de
outros. Mas aquelas almas que após terem recebido o santo batismo não
incorreram em mancha alguma de pecado e também aquelas que após o
contraírem se purificaram - quer enquanto permaneciam em seus corpos
quer após deixá-los - como acima foi dito, são recebidas imediatamente
no céu" (Concílio de Lião III, 14º Ecumênico).
Com efeito, o Concílio de Florença simplesmente reafirmava o que estes
outros Concílios Ecumênicos já tinham definido alguns séculos antes:
"...Desta forma, se os verdadeiros penitentes deixarem este mundo
antes de terem satisfeito com frutos dignos de penitência pela ação ou
omissão, suas almas são purgadas com penas purificatórias após a morte; e
para serem aliviadas destas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos
fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa, orações e esmolas, e
outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar por outros
fiéis, segundo as instituições da Igreja. E que as almas daqueles que
após receberem o batismo não incorreram absolutamente em mancha alguma
de pecado e também aquelas que, após contrair mancha de pecado, a
purgaram, quer enquanto viviam em seus corpos quer após o deixarem,
segundo o que foi dito acima, são imediatamente recebidas no céu..."
(Concílio de Florença, 17º Ecumênico).
O mesmo reafirma o Concílio de Trento (de 1545 a 1563):
"Tendo a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, segundo a
doutrina da Sagrada Escritura e da antiga tradição dos Padres, ensinado
nos sagrados concílios e atualmente neste Geral de Trento, que existe
Purgatório, e que as almas detidas nele recebem alivio com os sufrágios
dos fiéis e em especial com o aceitável sacrifício da missa, ordena o
Santo Concílio aos Bispos, que cuidem com máximo esmero que a santa
doutrina do Purgatório, recebida dos santos Padres e sagrados concílios,
seja ensinada e pregada em todas as partes, e que seja acreditada e
conservada pelos fiéis cristãos. Excluam-se, todavia, dos sermões
pregados em língua vulgar à plebe rude, as questões muito difíceis e
sutis que a nada conduzem à edificação e com as quais raras vezes se
aumenta a piedade. Também não se permita que sejam divulgadas e tratadas
as coisas incertas, ou que tenham vislumbres ou indícios de falsidade.
Ficam proibidas, por serem consideradas escandalosas e que servem de
tropeço aos fiéis, as que tocam em certa curiosidade ou superstição, ou
tem resíduos de interesse ou de sórdida ganância. Os bispos deverão
cuidar para que os sufrágios dos fiéis, a saber, os sacrifícios das
missas, as orações, as esmolas e outras obras de piedade que costumam
fazer pelos defuntos, sejam executados piedosa e devotadamente segundo o
estabelecido pela Igreja, e que seja satisfeita com esmero e exatidão,
tudo quanto deve ser feito pelos defuntos, segundo exijam as fundações
dos entendidos ou outras razões, não superficialmente, mas sim por
sacerdotes e ministros da Igreja e outros que têm esta obrigação"
(Concílio de Trento, 19º Ecumênico - Sessão 25: Decreto sobre o
Purgatório).
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